As Relações Precoces

  • 1- Qual a ligação entre o tema das emoções e o das relações precoces?

   As emoções desempenham um papel fundamental no início da vida. O ser humano, quando nasce, está desprovido da possibilidade de sobreviver sozinho. O seu caráter prematuro torna-o dependente dos adultos que dele cuidam, com quem tem de comunicar para poder manifestar as suas necessidades e desejos. É através das emoções que comunica com a mãe, ou com outro criador, elaborando um sistema de troca através de gestos e mímicas.

   Os sinais emocionais - sorriso, expressões faciais, choro, grito - constituem um sistema de comunicação precoce que permite ao bebé levar o adulto a participar na sua sensibilidade e a obter as respostas necessárias ao seu bem-estar e à sua sobrevivência. Por sua vez, o adulto interpreta e responde.

   As emoções são o primeiro modo de comunicação e de relação do bebé com o mundo que o rodeia. As manifestações emocionais do bebé são vitais, porque correspondem a sinais que visam mobilizar os adultos no sentido de lhe proporcionarem o que é necessário.

   Concluindo: Os bebés estão dotados de um conjunto de estratégias, de competências, que lhes permitem enviar sinais para os adultos que, por sua vez, estão predispostos a responder-lhes. Este processo tem um valor adaptativo, dado que leva a que as necessidades fisiológicas e psicológicas sejam satisfeitas. Vai ter, pelo caráter comunicacional, repercussões nas relações futuras.

   A riqueza da capacidade comunicacional do bebé está bem expressa na opinião do pediatra Berry Brazelton:   "O bebé nasce com meios excelentes para dar a conhecer as suas necessidades e também para agradecer aos que o cercam. De facto, pode até escolher o que espera dos seus pais."

  • 2- O que se entende por relações precoces e qual a sua importância?

   A vocação social, condição da nossa humanidade, manifesta-se logo após o nascimento nas relações precoces que o bebé estabelece com a mãe e com os adultos que cuidam do recém-nascido. Estas relações e as que vamos desenvolvendo ao longo da vida explicam o que pensamos, o que sentimos, o que aprendemos. 

   É nas relações com os outros que o nosso eu se constrói, nas suas múltiplas manifestações. As relações precoces vão ter um papel fundamental na construção de relações com os outros e na construção do eu psicológico.

  • 3- O que se entende por imaturidade do bebé humano e o que mudou nesse conceito nos últimos tempos?

   O ser humano é um ser prematuro, no sentido em que não apresenta as suas capacidades e competências desenvolvidas. O ser humano nasce imaturo. Essa imaturidade, que se revelou um elemento decisivo no processo de desenvolvimento da espécie, torna-o dependente, durante muito tempo, dos adultos: para se alimentar, para ser protegido, enfim, para sobreviver. Esta imaturidade e as necessidades daí decorrentes implicam um tipo de relação com os progenitores distinto do dos outros animais. Prematuro, precisa dos cuidados dispensados, nos primeiros anos de vida, pelos pais, ou outros criadores, para poder sobreviver física e psiquicamente.

   Nos últimos anos, assistimos a uma extraordinária evolução nas investigações sobre as competências do recém-nascido, na relação com o meio e, sobretudo, com os outros seres humanos.

   O desenvolvimento de novos métodos de estudo, técnicas de observação e registo dos comportamentos (com recurso ao vídeo e ao tratamento informático dos dados) motivaram um acréscimo do interesse dos psicólogos sobre as competências precoces do bebé, sendo também crescente a consciência da importância que tem o conhecimento da psicologia do recém-nascido na compreensão do desenvolvimento humano e no modo como se processa a comunicação com as figuras parentais.

   Abandonou-se a ideia de que o bebé era um ser passivo nos primeiros tempos de vida; constatou-se que apresenta um conjunto de capacidades e competências que estimulam aqueles que o rodeiam a satisfazer as suas necessidades. Efetivamente, as observações e as experiências desenvolvidas nos últimos anos mostraram que as capacidades dos bebés, designadamente a capacidade para comunicar, são muito superiores às que, até há pouco tempo, se imaginavam.

  • 4- Quais as princiais competências do bebé e por que se consideram tão importantes?

   Uma das constatações que se tem feito é que o bebé não é um ser passivo que se limita a receber os cuidados dos adultos: é um sujeito ativo, que emite sinais daquilo que pretende e que responde, com agrado ou desagrado, ao tratamento disponibilizado.

   A comunicação entre o bebé e as figuras parentais faz-se através de um conjunto de trocas de sinais que manifestam as suas necessidades e o seu estado emocional.

   Assim, o bebé recorre a um conjunto de estratégias comportamentais para chamar a atenção da mãe, ou de outro cuidados, no sentido de obter uma resposta para o que precisa.

   O choro, o contacto físico, o sorriso, as expressões faciais e as vocalizações são alguns dos meios a que o bebé recorre para manifestar as suas necessidades e obter a sua satisfação. Estas competências e estratégias que o bebé possui servem, também, para seduzir os adultos (e não só os progenitores), impedindo que os abandonem.

  • 5- Refere algumas das competências fundamentais da mãe (ou agente maternante).

   O processo através do qual o bebé e os progenitores (ou as pessoas que cuidam dele) comunicam estados emocionais e respondem de modo adequado é designado por regulação mútua. Uma interação equilibrada exige que a mãe interprete adequadamente os sinais emitidos pelo bebé e que responda de forma apropriada.

   Entre o nascimento e os 18 meses , o bebé mantém uma relação privilegiada com a mãe, que oscila entre a confiança e a desconfiança. Se a mãe cuida do bebé, se está disponível para responder às suas solicitações, desenvolve um sentimento de confiança, fazendo-o sentir-se seguro. Acredita que os seus desejos e necessidades serão satisfeitos.

   A sensibilidade e a disponibilidade da mãe face às necessidades do bebé e o prazer mútuo nas interações que se estabelecem propiciam um sentimento interno de segurança, que é gerador de uma confiança básica que permite ao bebé encarar o mundo de forma positiva.

   O psicanalista Wilfred Bion sugere o modelo continente-conteúdo para contextualizar a relação mãe-bebé. O bebé vivencia medos, emoções, receios, angústias; é o que designa por conteúdo. A mãe poderá constituir o continente, isto é, ser a depositária dos sentimentos contraditórios vividos pelo seu filho.

   Segundo Bion, uma mãe continente reage às necessidades do bebé dando acolhimento à angústia e à ansiedade do filho, sem as devolver através de comportamentos ou atitudes ansiosas e angustiadas. A boa mãe comunica eficazmente, "comunica poeticamente com o seu bebé", no dizer do psicanalista. Reage às necessidades do bebé, transformando inquietação em segurança, desconforto em bem-estar, tornando tolerável a sua angústia, fazendo-o sentir-se amado e compreendido. A identificação do bebé com essa mãe continente estrutura uma relação de harmonia essencial para o equilíbrio psicológico presente e futuro.

  • 6- "Testa o que sabes" pág. 99 e 100.
  • 7- Define o conceito de vinculação e, a partir das experiências de Bowlby e M. Ainsworth, esclarece a sua importância.

   O médico e psiquiatra britânico John Bowlby desenvolveu uma teoria a partir de uma hipótese: a relação privilegiada que o bebé estabelece com a mãe é decisiva para o seu desenvolvimento físico e psicológico. Os laços que se vão construindo entre a mãe e o bebé, Bowlby designa-os por vinculação, apego, attachment. A vinculação é a necessidade de criar e manter relações de proximidade e afetividade com os outros, de o bebé se apegar a outros seres humanos para assegurar proteção e segurança.

   Esta relação, que se manifesta pela necessidade de contactos físicos ou de proximidade, seria, tal como a fome e a sede, uma necessidade básica ou primária. Segundo a teoria de Bowlby, para assegurar estas relações, existiriam esquemas comportamentais inatos que se manifestariam logo após o nascimento e que permitiam estabelecer laços com as pessoas mais próximas, geralmente com a mãe biológica. Assim, chorar, rir, mamar, agarrar, seguir o olhar, constituiriam os comportamentos que o bebé adotaria para manter a relação privilegiada com as figuras de vinculação, de proteção.

   Bowlby desenvolve um conjunto de investigações para procurar esclarecer a importância das relações precoces da criança com os progenitores. Estabelece comparações entre os sorrisos, as vocalizações e o choro dos bebés humanos com as estratégias de outros mamíferos para conseguirem assegurar os cuidados maternos.

   Entre outros, constata, em Londres, que a separação dos pais, no fim da Segunda Guerra Mundial, tinha tido efeitos muito negativos no desenvolvimento físico e psicológico das crianças. A partir das conceções de Darwin e dos trabalhos de Lorenz, defende que a vinculação aos progenitores responde a duas necessidades: proteção e socialização.

   Mary Ainsworth é uma psicóloga canadiana que trabalhou com Bowlby e que desenvolveu a teoria da vinculação, estudando, no Uganda, o efeito da separação em 28 bebés, durante três anos.

   Se a relação com os pais gera segurança, na medida em que o bebé está certo de que a relação se mantém para além da separação, a criança sente-se mais livre para descobrir o mundo, para estabelecer outras relações.

  • 8- Mary Ainsworth vai fornecer à teoria da vinculação de Bowlby um suporte observacional e experimental. Esclarece.

  Mary Ainsworth descreve o funcionamento dessa "base de segurança" dada pelos pais a partir de experiências que desenvolveu. Ao regressar aos EUA, aprofunda a sua investigação, recorrendo a um procedimento experimental que ficou conhecido como Situação Estranha. Em síntese, a investigadora regista o efeito da separação e do reencontro dos bebés entre os 12 e os 24 meses com a sua mãe (e posteriormente testou também os efeitos com o pai).

   Deste modo, Mary Ainsworth fornece à teoria da vinculação de Bowlby um suporte observacional e experimental.

   Segundo Ainsworth, a forma como o bebé reagia, quer à ausência da mãe, quer ao seu regresso, refletiria o seu equilíbrio emocional, que relacionava com os cuidados que recebera. A partir das observações, distinguiu três categorias de vinculação: segura, evidente e ambivalente/resistente.

   Os estudos prosseguidos pelos alunos de Mary mostraram a importância das primeiras vinculações; a sua qualidade influencia as relações que a criança vai estabelecer no futuro, designadamente com os colegas e os professores. Seria como um modelo do que se pode esperar dos outros.

  • 9- Realiza o "Testa o que sabes"da pág. 104 e 105.
  • 10- Harry Harlow desenvolveu experiências sobre a privação maternal e social em macacos Rhesus. Em que consistiram essas experiências e que conclusões podemos daí retirar?

   Harry Harlow foi um psicólogo norte-americano que ficou conhecido pelas suas experiências sobre a privação maternal e social em macacos Rhesus. As suas experiências consistiram na criação de duas mães artificiais, uma era feita de arame soldado e a outra, também de arame, era forrada com pano felpudo e macio. Harlow observou que os macacos bebés preferiam as mães confortáveis. Esta preferência mantinha-se independentemente de qual a mãe que fornecia alimento. 

   Outras observações mostram que o que estava em causa não era apenas a procura de conforto. O contacto parecia ser essencial ao estabelecimento de uma relação que transmitia segurança. Perante um estímulo gerador de medo, os macacos agarravam-se à mãe macia tal como o fariam a uma mãe real. Este comportamento nunca era observado com mães de arame soldado, mesmo em macacos criados só com ela. Então conclui-se que a relação cria e mãe está relacionada com o contacto e conforto, tal como nos bebés e mães, os quais procuram o colo da mãe por uma questão de conforto.

  • 11- Numa segunda fase da experiência Harlow retirou, ainda, outras conclusões. Quais?

   Numa segunda fase da experiência, Harlow retirou, ainda, a conclusão de que o longo isolamento dos jovens macacos Rhesus era devastador em termos sociais, na medida em que os macacos acabavam por fugir de outros macacos da mesma espécie e não tinham capacidade para criar as suas crias.

   Desta forma conclui-se que a ausência da progenitora fornecia efeitos negativos em termos físicos e psicológicos dos macacos.

  • 12- René Spitz estudou o conceito de hospitalismo. O que é e quais as suas consequências.

   O hospitalismo é o conjunto de perturbações que o bebé pode sofrer devido a carências maternas. Na ausência da mãe, as reações da separação, podem provocar uma depressão, devido à falta da figura materna. Quando crianças de idades muito precoces são sujeitas a uma privação de contacto com os seus entes mais próximos, seja em situação de um abandono materno ou a uma temporada passada num hospital, vão sofrer de problemas tanto físicos como psicológicos que podem afetar o seu desenvolvimento normal, tais como, o atraso no desenvolvimento corporal, insónias, perda de peso, alteração do seu estado geral, incapacidade de adaptação ao meio, fragilidade e menor imunidade a doenças infeciosas. 

   Nos casos de total carência afetiva, ligada à falta de qualquer vínculo maternal, os distúrbios podem levar à morte. A doença é sentida como um castigo, como uma falta cometida por algum ato, que lhe cria culpabilidade, e da qual agora está a sofrer as consequências. A criança sente que está a ser punida por alguma falta que cometeu. Spitz desenvolveu pesquisas em crianças privadas da presença da mãe. 

   Concluiu, então, que os bebés apresentavam perturbações somáticas e psíquicas pela falta da figura materna, havendo também uma carência afetiva total. Confirmou, assim, a necessidade de laços e de contactos afetivos entre bebé e mãe.


   Contudo, ainda assim, há sempre esperança! Isto porque somos RESILIENTES!  

DA VULNERABILIDADE À RESILIÊNCIA

   Os estudos mostram que algumas crianças e adolescentes confrontados com contextos desfavoráveis e potencialmente desestruturantes resistem, apesar das circunstâncias adversas, à ameaça da desorganização psíquica. A constatação desta variabilidade deu origem ao conceito de resiliência.

   O termo resiliente tem origem na Física e designa a resistência do material aos choques e à capacidade de uma estrutura absorver a energia cinética do meio sem romper. 

   O termo foi aplicado em Psicologia, a partir da década de 80, para designar os indivíduos que recuperam as suas energias depois de terem sofrido uma depressão. Contudo, hoje, a expressão resiliente aplica-se fundamentalmente às crianças que crescem em ambientes de privação e de risco (ex.: violência e maus-tratos) e que conseguem ultrapassar eficazmente os traumas vividos. Fogem ao ciclo de violência, ao fatalismo de criança que sofre violência, será um adulto violento, delinquente, socialmente desajustado.

   O psicólogo Elwin James Anthony desenvolveu um estudo sobre crianças que tinham sofrido maus-tratos ou situações traumáticas ou que eram oriundas de famílias onde havia problemas de alcoolismo ou outros e que as tornariam mais vulneráveis. Em 1980, dedica um livro ao tema: The Vulnerable Child. Conclui, entretanto, que, entre as crianças que designa por vulneráveis, há algumas que se desenvolvem de forma equilibrada, o que lhe mereceu uma reflexão no livro The Invulnerable Child, em 1987.

   É a psicóloga Emmy Werner quem vai aprofundar a questão num estudo que desenvolve numa zona do arquipélago do Hawai. Das 698 crianças nascidas em 1955, destaca um grupo de 201 bebés considerados de risco. Durante 32 anos, ela e os seus colaboradores acompanharam o desenvolvimento destes bebés, concluindo que, até à adolescência, um terço das crianças não apresentava qualquer problema; dois terços resolveram os seus problemas até aos 30 anos, integrando-se na sociedade; só 6% tiveram necessidade de apoio psicológico. Emmy Werner designou as crianças que resistiram às adversidades de "crianças resilientes".

   A resiliência, que é, no fundo, a capacidade de resistir à adversidade, é um processo, não um estado e, por isso, uma pessoa pode ser mais resiliente num momento da vida do que noutro.

   Geralmente, os investigadores identificam alguns fatores que designam por "fatores de proteção": individuais, familiares e extrafamiliares. Os primeiros são características como a inteligência, a auto-estima, a autonomia e o humor. A família, designadamente os pais, são elementos que permitem resistir melhor às situações traumáticas. Às vezes, os pais são substituídos por um adulto significativo, uma irmã, os avós, os tios.

   Outros fatores identificados são a escola - onde a criança pode participar em relações c catividades que sejam fonte de confiança e auto-estima. Os encontros com pessoas significativas - por exemplo, um professor - pode ser muito importante. É o conjunto das defesas que permitirá que a criança elabore comportamentos que lhe permitam resistir e ultrapassar as situações. 

   O conceito de resiliência tem sido alargado à capacidade de resistir a situações adversas.

   E hoje, mais do que nunca, em plena pandemia pelo novo corona vírus, todos conhecemos este termo que, até há um ano atrás, era desconhecido da maioria dos portugueses!

  • 13- Faz uma reflexão sobre este conceito aplicando-o à tua realidade pessoal.

   Resiliência no dicionário: Capacidade de superar, de recuperar de adversidades.

   Muitos de nós alcançamos esse estado de resiliência para conseguirmos lidar com situações que nos são apresentadas, ao longo da nossa vida.

   Na minha experiência, já passei por alguns momentos em que tive de, de facto, resistir à adversidade para conseguir lidar com uma combinação de fatores.

   Então, agora, com a população mundial a passar por uma pandemia, a situação não está fácil para ninguém. Tivemos de aprender a resistir e a lidar com problemas sem entrar em surto psicológico.

   A resiliência é um processo, não um estado e, por isso, uma pessoa pode ser mais resiliente num momento da vida do que noutro. No fundo, arranjamos os tais "fatores de proteção" que nos ajudam a resistir melhor a situações traumáticas. No meu caso, tenho alguns elementos da minha equipa de basquetebol e outros amigos mais próximos.

  • 14- Realiza o "Testa o que sabes" da pág. 113 e 114.

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